Dentro de campo foi capitão, por sua serenidade e liderança. Não tinha nem 26 anos quando levantou a Taça Jules Rimet no Estádio Azteca, no México. Foi o primeiro a beijar a taça, gesto copiado dali pra frente.
Eu era um moleque de sete anos acompanhando pela primeira vez uma Copa do Mundo numa velha TV em preto e branco, que mais parecia em cores de tanta emoção.
Fora de campo, como treinador, usava de toda a experiência de muitos títulos conquistados para orientar seus comandados.
No dia 29 de setembro, véspera da decisão da Taça Conmebol, contra o tradicional Peñarol, no Maracanã. O “capita” surpreendeu a todos quando interrompeu o treino no meio. Sentira que a ansiedade tinha chegado a um ponto que não mais permitia que o treino fluísse normalmente. Seguir, daquele jeito, só serviria para que os jogadores errassem ainda mais e jogassem pelo ralo a confiança adquirida ao longo daquela campanha. Sábia decisão.
O Botafogo entrara na competição sem grandes pretensões, mas os bons resultados foram se sucedendo. Passamos pelo Bragantino e pelo Caracas. Já na semifinal depois de perdermos por 3×1 no Mineirão, parecíamos ser carta fora do baralho. Mas Carlos Alberto não quis saber de desânimo e escalou quatro atacantes: Aléssio, Sinval, Marcelo e Eliel. Jornalistas adjetivaram a tática como suicida, mas o Botafogo bateu o Galo por 3×0 e garantiu a vaga na finalíssima.
Na primeira partida, em Montevidéu conseguimos um empate de 1×1. E, no jogo decisivo, contrariando as expectativas, mais uma vez, Carlos Alberto escalou quatro atacantes. Queria a vitória e o título.
E conseguiu, a duras penas, é verdade. Ganhávamos até os 45 do segundo tempo. O gol de empate uruguaio acabou nos levando para uma dramática cobrança de pênaltis, na qual Sinval se deu ao luxo de perder o primeiro. Nossa sorte e a do “capita” é que Bacana, nosso goleiro, estava iluminado e garantiu a Taça.
Carlos Alberto finalmente conquistava um título no Botafogo e é muito provável que depois da última cobrança, a que garantiu a vitória, tenha vindo à sua mente uma partida de 22 anos antes, naquele mesmo Maracanã. Uma partida que coroaria o ótimo elenco alvinegro do Campeonato Carioca de 1971. Além de Carlos Alberto, naquele ano tínhamos Ubirajara, Brito, Osmar, Carlos Roberto, Zequinha, Nilson Dias, Jairzinho e Paulo César. Uma seleção.
Precisávamos apenas do empate e Carlos Alberto já tinha dado lugar a Mura quando Marco Antônio fez falta clara sobre o goleiro Ubirajara. Falta que o juiz José Marçal Filho fingiu não ver, validando o gol de Lula.
Carlos Alberto Torres teve uma passagem fantástica pelo Santos e jogou na chamada Máquina Tricolor, mas sempre nutriu um enorme carinho pelo Botafogo. Além de treinador em 93, também comandou o clube em 1997 e em 2002.
Foi-se, mas sua imagem como a estrela solitária no peito vai continuar presente no muro dos craques alvinegros. E a camisa dois do Botafogo de todos os tempos, que soube honrar com categoria e entrega, será sempre sua.